No último post, eu afirmei que a Clínica Transdisciplinar busca, não só agenciar o sofrimento, mas promover modos singulares e potentes de viver. Mas afinal, o que é potência de vida?
De forma bem ampla, potencializar a vida pode ser entendido como sinônimo de promover saúde. O que acontece, é que pra mim, o termo potência de vida ajuda justamente a compreender o conceito de saúde. Já é batido afirmar que saúde não é apenas o contrário de doença. A atual definição de saúde da OMS afirma isso, mas apresenta um conceito que sinceramente não me satisfaz. Conforme o texto, saúde é um “estado de completo bem-estar físico, mental e social”. Esse “completo bem-estar” é o que me incomoda. Será mesmo possível alcançar esse estado? Uma pessoa que não possui completo bem estar físico não está saudável ou não possui saúde? Então uma pessoa que possui uma doença não possui saúde? Recaímos na dicotomia.
A potência de vida (ou potência de ação) está relacionada à nossa capacidade de agir no mundo e de transformar a realidade em que vivemos na direção do que desejamos. Tem a ver com a nossa energia, possibilidade, disposição, vontade, inspiração e alegria de fazer as coisas. É o princípio pelo qual a vida projeta-se para além de si mesma.
De acordo com Espinosa, é a nossa capacidade de realizar encontros. A potência de vida acontece em fluxo, e pode ser pensada como um gradiente que aumenta ou diminui conforme os encontros que realizamos. Os bons encontros aumentam a nossa potência, e os maus, diminuem. Dessa forma, é importante estar atento que existe uma diferença ética entre potência e poder. Efetuar sua potência é necessariamente agir para gerar bons encontros, ou seja, compor com o mundo. Nesse contexto, a potência de vida não deve ser pensada de forma individual e descontextualizada, podendo ser observada a partir de diferentes dimensões. (Guattari chamou de 3 Ecologias).
Em uma dimensão subjetiva, envolve a relação com o próprio corpo, e os processos conscientes e inconscientes. Envolve o processo permanente de aceitar-se e tornar-se quem se é, de forma singular e única.
Em uma dimensão social, envolve a esfera das relações humanas e está relacionada com a capacidade de resistir e lutar contra as formas de exclusão e opressão.
Em uma dimensão ecológica, envolve os processos de tomada de consciência ambiental, conservação da natureza e construção de relações mais harmônicas com o planeta.
Pensando dessa forma, promover saúde não se trata de estabelecer verdades, mas de pensar o futuro, o crescimento, a vida e a potência do mundo, dos coletivos e de cada sujeito em suas singularidades.
E pra você, o que aumenta a sua potência de vida? Comenta aí!
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