As Abordagens em Psicoterapia
A psicologia é um campo vasto e diverso, cujas raízes remontam à filosofia e à medicina da antiguidade, mas que se consolidou como ciência no final do século XIX. Ao longo do tempo, diferentes escolas e abordagens teóricas surgiram, refletindo mudanças no pensamento científico e nas necessidades da sociedade. Desde os primeiros estudos da psicanálise de Freud até o desenvolvimento das terapias baseadas em neurociência, cada abordagem oferece uma perspectiva única sobre o funcionamento da mente, o comportamento humano e os processos emocionais. Essas vertentes não apenas ampliaram a compreensão sobre a psique, mas também influenciaram diretamente a forma como os psicólogos conduzem a terapia e auxiliam seus pacientes, adaptando-se às complexidades da experiência humana. Nenhuma delas está completamente certa ou errada, ou oferece uma verdade universal sobre a mente humana. A escolha da abordagem mais indicada pode depender dos objetivos da psicoterapia e da preferência do paciente.
Abaixo, apresento algumas das principais abordagens da psicoterapia:
1. Psicanálise e Abordagens Psicodinâmicas
A psicanálise, fundada por Sigmund Freud, busca compreender os processos inconscientes que influenciam pensamentos, emoções e comportamentos. Essa abordagem investiga traumas, desejos reprimidos e conflitos internos que moldam a vida psíquica. Ao longo do tempo, diversas correntes surgiram a partir da psicanálise clássica:
- Psicologia Analítica (Carl Jung): enfatiza o inconsciente coletivo, os arquétipos e o processo de individuação.
- Psicanálise Winnicottiana: foca na importância das primeiras relações afetivas e do ambiente na constituição do self.
- Psicanálise Lacaniana: propõe uma leitura da psicanálise baseada na linguagem e na construção do sujeito a partir do simbólico.
2. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Abordagens Contextuais
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma das abordagens mais estudadas e eficazes no tratamento de diversos transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão, fobias e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Ela parte do princípio de que nossos pensamentos influenciam diretamente nossas emoções e comportamentos.
O objetivo da TCC é identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais que podem gerar sofrimento emocional. Para isso, utiliza técnicas como reestruturação cognitiva, exposição gradual, treinamento de habilidades sociais e técnicas de relaxamento e regulação emocional.
Nos últimos anos, surgiram as terapias cognitivo-comportamentais de terceira onda, também conhecidas como abordagens contextuais, que ampliam a visão tradicional da TCC ao incorporar princípios como aceitação, mindfulness e flexibilidade psicológica. Apesar de possuírem semelhanças entre si, elas também se diferenciam em alguns aspectos e podem ser mais indicadas para casos específicos. Entre elas, destacam-se:
- Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT): enfatiza a aceitação das emoções difíceis e o comprometimento com ações alinhadas aos valores pessoais.
- Terapia Comportamental Dialética (DBT): combina aceitação e mudança, sendo eficaz para pessoas com dificuldades de regulação emocional.
- Terapia Focada na Compaixão (CFT): desenvolve autocompaixão e reduz a autocrítica.
- Terapia Analítico-Funcional (FAP): trabalha mudanças comportamentais na interação terapêutica.
- Terapia do Esquema: utiliza elementos da teoria do apego e foca na transformação de padrões emocionais e comportamentais disfuncionais que se desenvolveram ao longo da vida.
3. Psicologias Humanistas e Existenciais
Essas abordagens valorizam a liberdade, a autenticidade e o potencial humano. Buscam compreender a experiência subjetiva do indivíduo, promovendo o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal. Algumas das principais vertentes são:
- Abordagem Centrada na Pessoa (Carl Rogers): destaca a experiência, a aceitação incondicional e o crescimento pessoal.
- Gestalt-terapia: enfatiza a conscientização do momento presente e a integração das experiências.
- Terapia Existencial: explora temas como sentido da vida, escolhas e responsabilidade.
4. Psicologia Histórico-Cultural
Baseada nos estudos de Lev Vygotsky, essa abordagem entende a subjetividade como um produto das relações sociais e culturais. A linguagem, a história e os processos de mediação social são fundamentais para o desenvolvimento psicológico. A terapia nessa perspectiva busca compreender como os fatores sociais, econômicos e culturais influenciam a constituição da subjetividade.
5. Terapia Sistêmica
A terapia sistêmica foca nos relacionamentos e no contexto social do indivíduo, compreendendo os problemas psicológicos como parte de uma dinâmica maior que envolve a família, o trabalho e outras relações. Essa abordagem é amplamente utilizada na terapia familiar e de casais.
6. Esquizoanálise
Desenvolvida por Gilles Deleuze e Félix Guattari, a esquizoanálise propõe uma visão não linear da subjetividade, rompendo com a ideia de um inconsciente estruturado como na psicanálise tradicional. Em vez de focar na história pessoal do indivíduo, busca mapear os fluxos de desejo e as forças que atravessam sua existência, analisando como a sociedade, a cultura e os sistemas de poder influenciam a constituição subjetiva.
Minha abordagem: a clínica transdisciplinar
A transdisciplinaridade é uma perspectiva que busca integrar diferentes áreas do conhecimento, ultrapassando as fronteiras rígidas entre disciplinas. Em vez de apenas combinar teorias, ela propõe um diálogo profundo entre diferentes campos, reconhecendo que a complexidade da experiência humana exige múltiplas formas de compreensão. Na psicologia, essa visão se traduz na clínica transdisciplinar, que considera o ser humano em sua totalidade, conectando aspectos emocionais, cognitivos, comportamentais, sociais e culturais.
Em vez de aderir rigidamente a um modelo fechado, essa abordagem valoriza a flexibilidade e a criatividade no processo terapêutico, permitindo que as intervenções sejam ajustadas conforme as necessidades do paciente. O terapeuta transdisciplinar não se prende a uma única teoria, mas sim à singularidade de cada cliente, escolhendo ferramentas e conceitos que façam sentido dentro de cada processo. Esse olhar amplo favorece a interlocução com outros campos – como a filosofia, a arte, as neurociências e as ciências sociais –, ampliando as possibilidades de compreensão e intervenção.
Apresentar meu trabalho como psicólogo clínico tem sido um processo contínuo de descoberta e invenção. Durante minha formação, transitei por diferentes campos da psicologia, com um foco especial na educação e na psicologia social. Após a graduação, iniciei uma formação em Gestalt-terapia, mas, no último ano, percebi que aquela prática não correspondia inteiramente ao que eu buscava. Por um tempo, tentei me encaixar em uma abordagem específica, mas aos poucos compreendi que minha prática não se encerraria em um único modelo. Esse percurso me levou à Clínica Transdisciplinar.
Na Clínica Transdisciplinar, o terapeuta integra diferentes abordagens e disciplinas, utilizando-as como recursos a serviço do processo terapêutico. Assim, é possível dialogar com a Gestalt-terapia e a Esquizoanálise, com as Neurociências e a Espiritualidade, sem que uma invalide a outra. A psicologia se expande e se relaciona com a arte, a filosofia e os saberes populares e tradicionais, permitindo uma escuta mais ampla e conectada com a complexidade da existência.
Essa abordagem também se reflete na prática clínica: não há um formato único que se repete em todos os encontros. Cada sessão é construída de forma artesanal, respeitando o que emerge no processo terapêutico. Em vez de apenas administrar o sofrimento, o objetivo é potencializar a vida, ampliando modos singulares de existir, pensar e agir.
A transdisciplinaridade afirma a multiplicidade dos saberes, a diversidade dos seres e a complexidade do mundo. Mais do que um método fixo, ela é um convite ao movimento e à experimentação, permitindo que possamos aprender e construir juntos ao longo do caminho.